Você,
graduando, gostaria de ter uma empresa? Tem ideias inovadoras e/ou
empreendedoras? Pois é, no início desse mês, foi sancionada a Lei 13.267, disciplinando a criação e a organização das Empresas
Juniores nas instituições de Ensino Superior.
No IF Baiano,
está sendo elaborada uma proposta para Regulamentação do Programa
Institucional de Empresas Juniores, que logo estará disponível para
que a comunidade acadêmica envie suas contribuições. Nesta
entrevista, o Assessor Especial do IF Baiano, Agnaldo Freire, fala a
respeito do assunto e sobre o processo de criação de Empresas
Juniores.
Bem
Baiano - O que é uma Empresa Júnior?
Agnaldo
Freire - Na
prática, Empresa Júnior é uma empresa formada por estudantes de
cursos de graduação que prestam serviços, normalmente, para micro
e pequenas empresas. Durante a execução desses serviços/projetos e
no dia a dia da empresa, os alunos acrescentam conhecimento sobre
gestão, se especializam em sua área de atuação e têm contato
direto com o mercado. Assim, por meio da vivência empresarial,
adquirem competências fundamentais para sua formação e condições
para se tornar um empreendedor.
Bem
Baiano – Qual é o principal objetivo de uma Empresa Jr.?
Agnaldo
Freire - O principal objetivo das empresas juniores é promover a
vivência prática e conceder melhor experiência de mercado aos
alunos, aprimorando sua formação, além de trazer benefícios para
a sociedade, através da prestação de serviços com qualidade e
baixo custo.
Bem
Baiano – Como deve funcionar uma Empresa Jr.?
Agnaldo
Freire - Sendo uma empresa de prestação de serviços, com a
observação de que deve ser sem fins lucrativos, a Empresa Júnior
atua aplicando seus produtos/serviços de acordo com suas
competências, atendendo principalmente empresas/organizações de
pequeno porte. Em termos de estrutura, a empresa Júnior é formada
por três instâncias/órgãos: I - Assembleia Geral; II - Diretoria
Executiva; Conselho Fiscal.
Assim
como acontece no mercado de trabalho, a empresa júnior, em sua
Diretoria Executiva, está dividida em diversas áreas, como
finanças, marketing e administração, com os seus
respectivos funcionários (que são voluntários). Cabe ressaltar que
a Empresa Júnior deve ser orientada/coordenada por um professor da
Instituição sendo esse do curso ao qual está vinculada. Essa
orientação/coordenação não implica, em hipótese alguma, no
processo de tomada de decisão da empresa. Isso é atribuição de
seus funcionário.
Bem
Baiano – Qual a importância para o IF Baiano, para seus estudantes
e comunidade locais promover o funcionamento de Empresas Jr.?
Agnaldo
Freire - Podemos entender a importância da criação de
Empresas Juniores para o IF Baiano, sua comunidade e seus territórios
de atuação, através do que o Movimento Empresa Júnior chama de
Ciclo do Impacto. Nesse Ciclo,
temos um ponto de vista dos alunos que é o “Aprender
Compartilhando” e o “Aprender Fazendo” e para todos os
envolvidos: a Formação Empreendedora (destacando a capacidade
e o comprometimento),
o impacto no Ecossistema e, por fim, o desenvolvimento da Empresa
Júnior e da Rede a qual está inserida.
Bem
Baiano - Quais os principais desafios de uma Empresa Júnior?
Agnaldo
Freire - Ainda na visão do Movimento Brasil Júnior, durante seu
processo de fundação, podemos enumerar três desafios principais
que uma empresa júnior normalmente passa. O primeiro é a formação
da equipe. Não é muito fácil unir pessoas engajadas e
comprometidas o suficiente com a causa e que realmente vão conseguir
passar por todas as etapas do processo. O segundo é o apoio da
Instituição, embora algumas Instituições apoiem logo de cara a
ideia, outras têm algumas restrições. O seu desafio é conseguir
contornar essa situação para conseguir esse apoio ou garantir que a
falta dele, a princípio, não impeça a criação da Empresa Júnior.
O terceiro e último desafio é a regulamentação, em função de
toda a burocracia exigida pela legislação brasileira. Após
sua criação, os principais desafios estão na manutenção do ideal
do projeto, na capacidade de realização e viabilização da empresa
e, por conseguinte, na sua continuidade.
Bem
Baiano - O que é proibido na atuação e criação das Empresas Jr?
Agnaldo
Freire - A primeira questão é, por força de Lei, que uma
Empresa Júnior não pode ter fins lucrativos. Não pode ser criada
sem estar vinculada a um ou mais cursos de graduação, de uma
Instituição de Ensino Superior, deixar de respeitar, observar e
cumprir incondicional e imperativamente as Legislações Federal,
Estadual e Municipal, além de outras
restrições regidas pela Lei 13.267
/2016,em
seu Art. 7º.
Bem
Baiano - De forma
didática e sucinta, qual seria a diferença entre uma Empresa Jr. e
uma cooperativa? E quais seriam os traços em comum?
Agnaldo
Freire -Basicamente,
a principal diferença é a natureza dessas organizações, as Leis
distintas que as regem e todas as obrigações decorrentes dessa
diferença. Outra peculiaridade da Empresa Júnior é o fato de,
obrigatoriamente, ser formada por alunos de um ou mais cursos de
graduação e, tanto empresa quanto membros, devem estar vinculados à
Instituição de Ensino que abriga seu(s) curso(s). Embora distintas
em sua natureza (especialmente jurídica), existe muita semelhança
entre elas. Pode-se dizer até que o Cooperativismo inspirou a
criação das Empresas Juniores. O Congresso de Praga de 1948
definiu a sociedade cooperativa nos seguintes termos [3] págs.
19-20: “Será
considerada como cooperativa, seja qual for a constituição legal,
toda a associação de pessoas que tenha por fim a melhoria econômica
e social de seus membros pela exploração de uma empresa baseada na
ajuda mínima e que observa os Princípios de Rochdale”. Tais
princípios são sete:
- adesão livre
- administração democrática
- retorna da proporção das compras
- juro limitado ao capital
- neutralidade política e religiosa
- pagamento em dinheiro a vista;e
- fomento da educação cooperativa
Se
observarmos a maioria desses princípios e compararmos com uma EJ,
poderemos encontrar as principais semelhanças entre esses dois tipos
de organizações.
Bem
Baiano - O que o IF Baiano tem feito para organizar e fomentar
a atuação das Empresas Jr.?
Agnaldo
Freire - Podemos dizer que o
movimento para criação de Empresas Juniores acontece de forma
natural, a partir das motivações geradas nos Campi,
onde as atividades, as principais ações, para a existência de uma
Empresa Júnior, são encontradas. No IF Baiano, a existência de
ações e demandas, por exemplo nos Campi de Guanambi, Catu e Santa
Inês, impulsionaram a criação de uma Comissão Especial, com a
finalidade de apoiar essas iniciativas e também regulamentar o
processo de criação e atuação das Empresas Juniores, no âmbito
da Instituição. Especialmente agora que existe legislação
específica. Depois dessa regulamentação, os próximos passos
serão na direção da viabilização dos projetos, através do apoio
via editais. Além disso, a busca pelas parcerias com outras
Instituições, como o SEBRAE, devem trazer um fortalecimento para a
estruturação, capacitação e continuidade das Ejs do IF Baiano.
Bem
Baiano - Existe algum foco/ área de atuação que as Empresas Jr.
do IF Baiano devam atuar? Ou espera-se que atue?
Agnaldo
Freire – Elas [Empresas Juniores] devem ter atuação ligada
aos cursos superiores existentes no IF Baiano (Bacharelado ou
Licenciatura), na época de sua criação. Finalmente,
pela característica do processo de criação das Empresas Juniores,
fortemente ligado ao empreendedorismo, não cabe definições de
prioridade por parte da Instituição. É um processo que deve
observar diversos fatores motivacionais e esses devem surgir a partir
da comunidade, diante de sua capacidade de observação das
oportunidades, busca por interessados em desenvolver os projetos,
pela competência estabelecida nas áreas de atuação de seus cursos
e pelo apoio a esse ideal, esse sim, demandado junto à gestão, em
todas as suas esferas.
Foto: Arquivo de Agnaldo Freire
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