Que
lugar a mulher ocupa na sociedade ou
deve ocupar? O que é ser mulher? Cinco mulheres da comunidade do Instituto Federal Baiano (IF Baiano) contam, para a equipe do Bem Baiano, sobre a vida múltipla dividida entre as atividades do lado pessoal e do profissional, as conexões com o cotidiano do Instituto e as expectativas quanto ao futuro e suas contribuições a esse amanhã.
deve ocupar? O que é ser mulher? Cinco mulheres da comunidade do Instituto Federal Baiano (IF Baiano) contam, para a equipe do Bem Baiano, sobre a vida múltipla dividida entre as atividades do lado pessoal e do profissional, as conexões com o cotidiano do Instituto e as expectativas quanto ao futuro e suas contribuições a esse amanhã.
Mulheres
conscientes do hoje e confiantes quanto a uma vida melhor às
mulheres das próximas gerações. Elas traduzem em palavras suas
vivências femininas de força e superação. “Sou
mãe, esposa, agricultora, estudante de agroecologia, bolsista de
projeto, membra do grupo força jovem da igreja que participo,
cooperada, voluntária em grupos de agroecologia...”, estão entre
as definições da estudante do quinto semestre de Tecnologia em
Agroecologia do Campus
Uruçuca, Eulália Muniz.
O caso
de Eulália, que relata suas experiências pessoais inspiradoras como
sua mãe que finaliza uma pós-graduação aos 52 anos e seu marido
como responsável por suas conquistas, além do seu próprio exemplo
que estuda no município de Uruçuca e mora em local distante 42km
(40km da cidade e mais 2km da estrada de chão na zona rural até o
ponto de ônibus). É essa mulher de inúmeras atividades que reflete
quem são elas agora no século XXI: determinadas e com força de
vontade para fazerem o que acreditam.
De
batalhadoras a construtoras também dos espaços do trabalho, elas
acreditam na transformação desses lugares a partir do olhar
feminino seja nas lideranças, no empreendedorismo e/ou na política
para uma nova vida. “A
ocupação cada vez frequente de mulheres em cargos de chefia e
liderança é uma grande conquista, sem falar que estamos mais
escolarizadas, politizadas e empreendedoras. Porém, é preciso
ampliar as discussões e a conscientização de nossas meninas para
que, futuramente, tenhamos mulheres atuantes, questionadoras e
militantes da criação e da defesa dos direitos da mulher”, afirma
a relações públicas Cássia Costa que trabalha na Coordenação de
Comunicação Social/Reitoria.
Para
Kiliane Oliveira, assistente de aluno que trabalha na Coordenação
de Assuntos Estudantis (CAE) do Campus
Uruçuca, o hoje da mulher liga-se à responsabilidade de
posicionamento e transformação pelas ideias e pelas atitudes das
pessoas “que se limitam a aceitar valores que desmoralizam,
desrespeitam e agridem ao próximo. Temos muito ainda o que fazer em
nossa sociedade, acredito que um dos maiores desafios é acabar com a
desigualdade em todos os sentidos”, destaca.
E,
se a História está em construção, o que representa o dia 8 de
março? Ana Carina Silva, técnica em assuntos educacionais que atua
na Coordenação de Ensino do Campus
Senhor do Bonfim, acha que as mulheres poderiam assumir sua
feminilidade sem medo da inferiorização, “pois a doçura e a
meiguice, própria de nossa natureza são as armas mais potentes para
tornar o mundo um lugar de conciliação, coerência e sobretudo de
amor e alegria”, diz.
A
seguir, num bate-papo, elas relatam suas rotinas. Saiba mais sobre
algumas das mulheres que constroem o IF Baiano.
Bem
Baiano - O
que você mais gosta em seu trabalho?
Cássia
Costa - Gosto
da possibilidade de exercer plenamente minha profissão e, através
do meu trabalho, contribuir com a sociedade.
Ana
Carina Silva - A
possibilidade de dialogar com as variadas áreas do saber para
coletivamente pensar em ações que possam colaborar com a formação
de cidadãos crítico-reflexivos.
Karolyny
Almeida (técnica em assuntos educacionais/chefe de gabinete no
Campus
Bom Jesus da Lapa) - O
trabalho, em seu sentido ontológico, já possui intrinsecamente uma
dimensão de realização do ser social. Considero que as
possibilidades de me desenvolver pessoal e profissionalmente através
do trabalho, de me ressignificar, agregar conhecimentos e construir
novas habilidades; de contribuir com processos de trabalho e de
formação tão importantes para as transformações que vislumbramos
nos territórios em que nos inserimos, enquanto IF Baiano, me motivam
e realizam de uma maneira muito forte. Diria que é isso o que mais
gosto no meu trabalho.
Bem
Baiano – Principais
conquistas nas vidas pessoal e profissional?
Kiliane
Oliveira - Considero
uma das minhas principais conquistas profissionais minha graduação,
pois as dificuldades foram inúmeras, a começar pela distância e a
realidade financeira. Na época, estudava à tarde e trabalhava um
turno pela manhã e outro, à noite para pagar a faculdade. Utilizava
duas conduções para ir e duas, para voltar. Foi um tempo árduo de
muito custo financeiro e físico. Mesmo com tantas batalhas, enfim
consegui o meu objetivo a conclusão do curso. Quanto
à vida pessoal, tenho minha filha, meu tesouro, sinto orgulho em ser
mulher mãe e esposa. Considero essa minha maior conquista.
Eulália
Muniz
- Na
vida pessoal, a minha maior conquista foi ter conhecido a Deus de
fato e verdade, ter minha família que é meu porto seguro, ter
incluído a oportunidade de estar cursando o curso superior de
Agroecologia que foi responsável por tantas portas que se abriram e
para que, de fato, eu pudesse contribuir com a comunidade onde resido
e com a sociedade. Cada dia aprendo mais, me torno uma pessoa melhor.
Ao mesmo tempo, em que somos formados também formamos, pois “quem
aprende ensina ao aprender e quem ensina aprende ao ensinar” (Paulo
Freire), Desse modo, estou
diariamente conquistando, aprendendo e retribuindo.
Cássia
Costa - Em
uma sociedade em que a maioria das pessoas não gosta do que fazem,
acredito que atuar, há mais de 10 anos, com prazer na área que
escolhi é uma grande conquista, tanto profissional como pessoal.
Bem
Baiano – O
que considera como conquista do universo feminino no trabalho e na
vida em sociedade? O que as mulheres precisam conquistar?
Ana
Carina Silva – Certamente,
as mulheres passaram a ter um reconhecimento social no seu fazer
laboral, atuando nas mais diversas funções e em diferentes cargos.
Eulália
Muniz - Vivemos
em uma sociedade capitalista e patriarcal onde, historicamente, a
mulher não tinha espaço e a desigualdade de gênero intensa. O
direito à autonomia pelo trabalho foi uma conquista importante, pois
permitiu que a mulher saísse de casa e conquistasse outros espaços,
esta autonomia trouxe o vislumbre da emancipação e da liberdade.
Ainda temos o direito ao voto, à Lei Maria da Penha que conseguiu
estimular a criação de uma outra cultura com um outro modelo de
punições aos agressores, virando um grande instrumento para o
enfrentamento da vida doméstica.
Apesar dessas conquistas, há um longo
caminho a percorrer, muito precisa ser alcançado ainda em condições
de salário, autonomia do próprio corpo, respeito a todas as
mulheres, combate ao tráfico de mulheres, espaço para mulheres com
deficiência, paridade, sendo essa um mecanismo de superação de
desigualdade. Precisamos garantir ainda mais inserção e
participação das mulheres, avançando a democratização dos
espaços decisórios, dispensando práticas viciadas, ocupar mais
espaços de poder e desconstruir o machismo a cada dia de nossas
vidas, pois cabe a nós combater esses comportamentos dignos de
repúdio.
Contudo, construir espaços de
auto-organização das mulheres até mesmo dentro das instituições
de ensino. Nós, mulheres, precisamos que os nossos direitos sejam
defendidos para que possamos viver em condições de igualdade, de
respeito e de liberdade.
Karolyny
Almeida – Historicamente,
as mulheres vêm conquistando através de um processo longo de lutas,
espaços que sempre lhes foram negados seja de maneira velada ou
através da construção de uma “consciência coletiva” que
pretendia determinar os papéis que deveriam e poderiam exercer, os
níveis de escolaridade, o “não lugar” no mercado de trabalho e
tantos outros aspectos ligados diretamente a estratégias de
sujeição.
Os
tempos recentes foram marcados por muitas afirmações femininas e
grandes conquistas relacionadas à diversidade de papéis que
desempenham de modo concomitante bem como à importância das
contribuições das mulheres em todas as esferas. Esse rompimento com
os padrões do passado foi, de fato, uma grande conquista que ainda
está se processando. Por isso, é preciso continuar empreendendo
lutas no sentido de desconstruir concepções machistas,
historicamente consolidadas. O respeito às singularidades próprias
da condição de mulher e às suas potencialidades precisa ser
fortalecido.
IF
Baiano na vida: Ser estudante, aprendizado e construção de mais um
papel social da mulher
Bem
Baiano – Como
você soube do IF Baiano?
Eulália
Muniz - Moradora
de um assentamento de reforma agrária, localizado no município de
Itabuna-BA, me deparo com inúmeras dificuldades existentes na zona
rural e, diante dessa situação, observei que eu podia de fato
contribuir com a minha comunidade.
Sendo
assim, o primeiro passo foi conhecer o trabalho das cooperativas de
agricultura familiar, participar de conferências, seminários,
simpósios, enfim tudo que tivesse ligação com a realidade em que
estou inserida. Na cooperativa, ouvir falar sobre o trabalho da
instituição IF Baiano que estava sendo parceira de um curso do
Pronatec Rural no curso de agricultor agroflorestal junto ao
assentamento Terra Vista em Arataca-BA.
Pesquisei
sobre a instituição e, pouco tempo depois, descobri o curso de
agroecologia. O IF Baiano abriu vagas para o primeiro curso superior
de Tecnologia em Agroecologia
da nossa região através do SISU e eu consegui ingressar.
Bem
Baiano – O
que há de melhor no IF Baiano? Na área de seu curso?
Eulália
Muniz -
Em nossa instituição, somos contemplados por bons professores, uma
boa biblioteca, Ensino,
Pesquisa, Extensão, assistência estudantil e espaço onde os alunos
podem verdadeiramente participar, conhecer, intervir, transformar,
espaço este que conquistamos! Desse modo, estamos no caminho para
alcançar uma instituição cada vez mais
democrática, popular e transformadora.
A agroecologia envolve muita mais do que
simplesmente um modelo de produção,
diminuição de impactos na agricultura e
nos parâmetros de desenvolvimento sustentável. Ela vem se
construindo, uma relação homem-mundo, uma relação de
transformação. Trabalhar com as pessoas e a produção do
conhecimento é fascinante. Esse conhecimento ocorre a partir da
cultura local, do saber popular e das condições do meio, sempre
buscando garantir a autonomia em relação às tecnologias
alternativas oriundas do empirismo. O processo educativo e científico
do curso de agroecologia do IF Baiano articula o Ensino e a Pesquisa,
uma relação entre teoria e prática, que viabiliza uma relação
transformadora entre a Universidade e a Sociedade.
Bem
Baiano – O
que você idealiza para sua vida profissional?
Eulália
Muniz - Aplicar
os conhecimentos adquiridos na graduação, na minha comunidade,
orientando para que as atividades rurais não prejudiquem o meio
ambiente e que através de várias práticas agroecológicas a vida
de todos se torne melhor em todos os sentidos. Além disso, pretendo
continuar estudando e me especializar cada vez mais para que possa
contribuir com projetos para minha região.
Eu
sei que não me vejo fazendo outra coisa que
não seja trabalhar com Agroecologia. Pode ser trabalhando com
pesquisas ou empresas e entidades ligadas ao planejamento de
atividades ligadas à produção agrícola. Um mestrado em Meio
Ambiente é o objetivo e uma pós-graduação em Políticas Públicas,
pois me interesso em formas de como mudar a realidade da população
através de políticas, distribuição de renda, assistência
técnica, programas governamentais.
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