O dia do Meio Ambiente, estabelecido
pelas Nações Unidas, é comemorado no próximo domingo, 5 de junho.
E o IF Baiano, que preza educação agroecológica, acredita que
ações locais, através do Ensino, Pesquisa e Extensão podem propor
alternativas para o
desenvolvimento sustentável e consciente das comunidades localizadas
no seu entorno, por meio de ações continuadas.
Nesta entrevista, professor
Cláudio Meira, do IF Baiano – CampusGuanambi,
doutor
em Biologia Vegetal, pela Universidade de Federal de Viçosa, fala
sobre temas
atuais relativos ao meio ambiente. Ele
vem desenvolvendo pesquisas na área de botânica e educação
ambiental, através do Grupo de Pesquisas Estresse Ambientais e Meio
Ambiente. No
Campus
Guanambi, desenvolve um projeto de sensibilização da comunidade
interna e externa, através da distribuição mudas de espécies
comuns na Caatinga.
Bem Baiano - O que tem
desenvolvido sobre o tema Campus Guanambi?
Cláudio Meira - Temos um
projeto permanente que conta com a participação de bolsistas e
voluntários com a realização de palestras, roda de debate com
estudantes, funcionários e a comunidade externa sobre o tema Meio
Ambiente. Através deste projeto buscamos sensibilizar para
conscientizar. A realização de palestras associada à distribuição
de mudas de espécies nativas e exóticas comuns da/na Caatinga, duas
vezes ao ano, auxiliam na integração e interação dos atores
envolvidos. Os resultados que alcançamos podem ser vistos em cada
árvore plantada em áreas da escola ou em outros locais públicos e
privados, além de ouvirmos das pessoas que plantar uma árvore
significa melhorar a qualidade de vida do local onde esta se encontra
e, pedidos para que o projeto continue atuante.
Bem Baiano - O ano de 2014 foi
considerado pela mídia, com o ano da “Crise Hídrica”, em razão
da queda nos níveis de abastecimento no Sudeste. Como estudioso do
assunto, o que aponta como principais fatores para essa crise?
Cláudio Meira -
A principal é a falta de cuidado com os recursos naturais por parte
da população e a omissão de nossos governantes quanto a esta
questão. O desejo desenfreado em consumir sem pensar que os recursos
são finitos, acarretam diversos problemas, entre eles o
desabastecimento hídrico. A capital paulista, por exemplo,
não sabia, até o ano de 2014, o que era de fato, faltar água em
suas casas e, a partir disso, começou-se uma batalha diária para
racionar e educar a população para os efeitos nocivos do uso
inadequado e sem responsabilidade da água, mas, infelizmente as
propagandas ficaram somente na água e nos momentos de alerta
hídrico. Não pensaram em um programa contínuo junto as escolas,
indústrias, comércio e população (por exemplo) para sensibilizar
sobre o uso inadequado dos recursos naturais, tão largamente
desperdiçados por nossa população.
“Outra forma de convivência com a Caatinga, respeitando este bioma e conservando as tradições locais, seria promover o desenvolvimento local sustentável, agregando valor aos produtos tradicionais”.
- Cláudio Meira, professor e pesquisador -
Além disso, corrobora para a crise
hídrica global a derrubada de árvores das florestas, a retirada da
mata ciliar, o uso cada vez maior e sem controle das águas dos rios
para fins diversos, levando a morte de rios e ao desabastecimento de
grandes cidades, como podemos observar em diferentes partes do mundo,
fazendo com que o saldo hídrico diminua cada vez mais ano após ano.
Bem Baiano - Existem
alternativas possíveis para convivência no semiárido que respeite
o meio ambiente e ao mesmo tempo promova o desenvolvimento? O que
pensa a respeito?
Cláudio Meira - As
alternativas são muitas, porém pouco exploradas. O bioma Caatinga é
frágil e muitas das atividades desenvolvidas nele poderiam ser
substituídas dando maior sobrevivência ao bioma e melhorando a
qualidade socioeconômica das populações. Como exemplo, pode-se
citar a troca do gado bovino por caprinos, que são mais adaptados à
Caatinga, requerem uma menor área de pastoreio e os alimentos
durariam mais em períodos de estiagem, podendo ser utilizado para
alimentar o rebanho.
Outra forma de convivência com a
Caatinga respeitando este bioma e conservando as tradições locais,
seria promover o desenvolvimento local sustentável agregando valor
aos produtos tradicionais como as compotas e doces, incentivar e
revitalizar práticas como a das costureiras e as das rendeiras que
tem nestes produtos grande aceitação em mercados de outras regiões
e até outros países. Para que isso funcione, é preciso organizar a
população (em associações e cooperativas), pois sozinhas, as
pessoas não conseguiriam ter força e quantidade suficiente para
poder produzir de forma a atender a demanda por seus produtos.
“A Educação Ambiental também pode ser usada para tratar de questões socioambientais para formar cidadãos mais completos e críticos”.
- Cláudio Meira, professor e pesquisador -
Bem Baiano – Há quem
argumente que pecuária é um dos principais contribuintes para osproblemas ambientais que enfrentamos. Nisso inclui, não somente o
desmatamento, mas também a poluição e esgotamento da água. Como o
senhor(a) vê esta questão da criação de gado, consumo e sua
relação com o impacto ambiental?
Cláudio Meira - A
criação de ruminantes de grande porte é um problema, mas, o
problema maior não está somente na emissão de gases por estes
animais e sim na associação desta com o uso irracional de água
pelos pecuaristas que, muitas vezes, não fazem o manejo adequado e
acabam por poluir muitos dos mananciais que servem para abastecer
outros locais. O Brasil tem área em quantidade suficiente para a
criação de gado bovino, entretanto, como dito, a falta de percepção
com nossos recursos finitos e com a grande quantidade que dispomos
pode ser um indicador dessa total falta de cuidado e desperdício com
nossas fontes de água, solo, plantas e animais, que a cada dia são
destruídos em nome do desenvolvimento que, pouco a pouco, vai
tornando-se cada vez mais insustentável!
Bem Baiano - O Acordo de Paris demonstra que a questão meio ambiente requer também ações em
termos de políticas públicas. E em termos de pesquisa, ensino,
extensão e de políticas públicas locais, o que acha que pode ser
feito?
Cláudio Meira - Estas
ações devem andar juntas. As questões políticas norteando as
ações de ensino, pesquisa e extensão e estas, realizando as
práticas, para que possamos promover uma mudança de atitude em
nossos alunos e, consequentemente na população, buscando a
sustentabilidade e a equidade, a justiça social e uma melhor
qualidade de vida para as populações.
Bem Baiano - Quando se fala em
Meio Ambiente, os dados apontam muitas informações em âmbito
global, mas localmente o que possível fazer e traga um impacto
positivo? Pode citar um exemplo?
Cláudio Meira -
Localmente, no Território do Sertão Produtivo, existem também
grandes problemas ambientais, entre eles podemos citar o da
desertificação. Problema que, como é difícil de ser
diagnosticado, também é difícil de ser visto e aceito pelas
autoridades de todas as instâncias de poder. Positivamente, podemos
dizer que realizamos programas de distribuição de mudas a
comunidade do IFBaiano – Campus Guanambi e também a comunidade
externa. Pelo interesse da população local em ganhar as mudas para
poder plantar, percebemos que as campanhas anteriores de
sensibilização estão conscientizando, começando a apresentar
resultados, mesmo que timidamente. Em sala de aula, os professores
também têm atuado trabalhando constantemente com a questão
ambiental local, apresentando os males do uso inadequado dos recursos
naturais e os perigos que as gerações futuras estão correndo.
Bem Baiano - Como a
Educação Ambiental deve ser inserida nas escolas? E qual a
importância para formação dos estudantes?
Cláudio Meira - Os
Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais trazem
ricas indicações de trabalho com a Educação Ambiental de forma
interdisciplinar em todas as áreas do ensino. Contudo, o que observa
são ações isoladas e soltas em determinados momentos como datas
comemorativas ou em momentos de turbulência ambiental, ficando
restrita assim a “dias ou situações específicas” e, muitas
vezes, sendo trabalhada apenas como um contraponto ao desequilíbrio
ambiental, esquecendo-se que a Educação Ambiental também pode ser
usada para tratar de questões socioambientais para formar cidadãos
mais completos e críticos quanto as questões que mais tem atingido
nossa sociedade.
Fotos: Arquivo pessoal de Claúdio Meira
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